quinta-feira, 15 de julho de 2010

A cobrança uma hora chega


Às vezes (ou quase sempre) sinto que tenho sido uma filha aplicada de Deus. Recebo todas as suas bençãos e aproveito todas as oportunidade que Ele me oferece. Procuro não reclamar e reconhecer cada pequena felicidade que me aparece. Hoje, por exemplo, fui almoçar com alguns amigos do trabalho. Quando íamos atravessar a rua, olhei aquele grupo, todos rindo de uma piadinha boba, e percebi o quanto sou agradecida apenas por pertencer a algum grupo.

Por outro lado, me sinto incomodada com a minha eterna aceitação. Sinto falta das contestações de adolescente, do não aceitar o que se tem pela frente. No banho, único momento que me sinto mais próxima de mim mesma, costumo sentir um calafrio, uma sensação de mal estar... um pequeno questionamento do tipo: onde eu realmente gostaria de estar agora, com o que eu realmente gostaria de estar trabalhando. Tento afastar logo esses pensamentos, porque eles são quase que um descontentamento com TUDO que Deus me deu, além de uma falta de reconhecimento de todos os meus esforços de chegar até aqui.

Outro dia ouvi a explicação sábia de um alto executivo sobre a diferença entre Sonho e Objetivo. Eu não gosto de ter nenhum deles. Os meus objetivos eu já alcancei: ser casada com quem eu amo, ter meu apartamento pequeno burguês, ter meus filhos com a inteligência que se espera (nunca quis ter gênios), trabalhar em uma multinacional, contribuir com uma instituição de caridade, ter duas gatas, ter um chefe gente fina, ter uma equipe confiável... E porque ainda me questiono?

Acho que se eu levasse esse texto para o meu ex-psicólogo ele diria que isso é normal do ser humano e tentaria entender se caso eu pensasse muito sobre isso, iria acabar me matando. Mas lendo a biografia da Clarice Linspector, acabei achando algumas respostas.

Realmente o ser humano é um eterno descontente. Mesmo com sucesso externo e felicidade familiar, fica se questionando o tempo todo. Somos realmente muito chatos. Ela teve tudo que eu sonhei: ser uma escritora de sucesso e não era feliz. Verdade que a chegada dela no Brasil e toda a sua história familiar dava chance para uma certa depressão. Mas e eu? Não tenho grandes traumas, não vivo na miséria, meus filhos não tem grandes problemas, meu marido não me bate, não bebe e NÃO JOGA FUTEBOL (ahahah).

E o que está faltando: exatamento isso... escrever... escrever... exorcisar meus fantasmas, crias as minhas históras. Até sem a pretenção de alguém ler. Mas isso me dá o verdadeiro prazer. Mas eu também não gosto de ter prazer... porque deixo tudo que me dá prazer para trás (menos a cerveja e a pizza de sexta-feira).

Caso eu me amasse de verdade, reservaria alguns minutos para escrever todos os dias. Seria quase um carinho comigo mesma. Mas e se eu me apaixono por essa idéia e abandono marido, filhos, emprego... Ai Meu Deus. Não seria justo.

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