quarta-feira, 28 de abril de 2010

A maquete

Nesse final de semana, meu filho mais velho - de apenas 5 anos - recebeu como tarefa de lição de casa montar uma maquete, com caixas, que representasse a nossa casa. Quando li as instruções fiquei apreensiva, já que eu não tenho muita habilidade para essas coisas... mas resolvi encarar a brincadeira.

No domingo pela manhã separei uma caixa de sapatos, que é retangular (nossa apartamento é um corredor - risososos), recortei as bordas de uma caixa de pizza para transformá-as em paredes, peguei uma caixa de ovos e dei massinha para meu filho moldar a geladeira, o fogão, a cama, o sofá etc.

Quando eu estava planejando a tal maquete, me veio um gosto amargo na boca e uma sensação muito desconfortável, como num relâmpago, pensei: "provavelmente um pai fdp, que é arquiteto ou engenheiro, vai fazer a maquete sozinho, incluindo miniaturas e ainda vai dizer que foi o filho quem realizou a proeza". Mas o pensamento foi embora rápido e fizemos a tal maquete. O resultado ficou legal, considerando que o trabalho era de uma criança de apenas 5 anos e não meu (uma mulher de 37 anos).

Hoje fui na escola do meu filho para a reunião de bimestre e na sala estavam expostas as maquetes. Em primeiro lugar, beeeeem exposta, estava uma maquete enorme feita sobre uma caixa de isopor que teve ter sido a embalagem de uma geladeira (tá bom... não era tão grande, talvez uma embalagem de uma TV...), com direito a fogão, geladeira, TV, sofá, computador, cama, armários... tudo muito bem recortado e colado milimetricamente... Na hora me veio o gosto amargo novamente na boca e a sensação desconfortável. Ainda comentei com a professora que estava na cara que uma criança de 5 anos não poderia ter feito aquilo e ela me disse que o mais importante era a "participação do pai" na lição de casa. Logo mudamos de assunto e fomos tratar do comportamento do meu filho (que não tá lá muito bom - puxou o pai - kkkkk).

Voltei para a casa com esse assunto engasgado e um tanto irritada. Na hora de tomar banho, comecei a fazer ligação entre o que eu tinha visto, o que eu ainda estava sentindo e também com uma matéria que eu li recentemente na Revista Veja sobre essa nova geração que é superprotegida pelos pais (vale a pena ler, por sinal). Realmente os pais de hoje não permitem que os filhos cometam erros, nem os pequenos e muito menos os grandes. Então... para que as crianças tenham o melhor trabalho e sejam elogiados por isso, acabam fazendo a lição de casa no lugar deles... E a sociedade ainda incentiva, reforçando a idéia que é pior a criança não entregar o trabalho na data, do que entregar um trabalho que não foi feito por ela!!! Ops... mas foi aí que eu percebi que não é apenas a geração de hoje que passa por isso e então entendi o motivo do gosto amargo que eu estou sentindo até esse momento.

Quando eu estava na sexta série (acho que eu estava com uns 10, 11 anos) tinha a ilusão e a vontade de ser escritora e já me arriscava em pequenos textos e poemas. Eram coisas simples que rimavam amor com dor, mas eram interessantes porque eu me esforçava para isso. Lia muitos livros, revistas e ficava horas procurando palavras no dicionário. Minha professora de português era fanstástica e me incentivava muito. No aniversário da escola (municipal, por sinal), ela organizou um concurso de textos e poemas sobre a história da escola e seu patrono. Eu fiquei super empolgada e perdi algumas noites de sono, buscando rimas, trabalhando palavras... tinha certeza que eu ia ganhar. A única contribuição dos meus pais foi o incentivo, mas eu fiz tudo sozinha.

No dia da entrega dos trabalhos, quando cheguei na porta da escola, conversando com a minha melhor amiga, ela confessou que não tinha perdido muito tempo e que a mãe dela a ajudou a fazer o trabalho... na verdade a mãe tinha feito a maior parte. Quando entregamos os poemas, eu tinha certeza que ganharia... mas quem ganhou foi essa minha amiga... Nossa!!! O gosto amargo agora está intenso... Quando fui questionar a professora, ela me disse que eu começava algumas estrofes usando tú e outras você e que isso era comum em letras de música, mas não em poemas. Não tive coragem de "dedurar" a minha amiga... mas desisti de ser uma poeta naquele dia. Tanto que hoje nem gosto muito de poemas.

Agora pensando nisso, também lembro de outras vezes que essa injustiça aconteceu: amigos que compravam monografias e que recebiam notas superiores às minhas, sendo que eu matava os finais de semana em bibliotecas (naquela época não tinha a Internet). Ou amigos que "chupinhavam" trabalhos que ficavam na biblioteca de alunos de outros anos e que, no final acabam em melhor colocação do que os meus!!! Aí eu parei para pensar que o mundo, ou pelo menos o Brasil, faz isso mesmo. Olha a Dilma aí gente... o que essa mulher oferece que é dela mesmo??? Tudo copiado do seu mentor, o Lula, que por sinal copiou tudo do FHC (revoltante!!!)

Tá, mas não quero falar de política. O que eu quero é dizer para o meu filho "não tenha vergonha da sua maquete capenga, porque você foi o responsável por ela, a mamãe só te ajudou. Vc aprendeu muitas coisas enquanto fazíamos e ríamos juntos quando as paredes caiam. Vc inclusive aprendeu sobre frustrações. É importante passar por isso e saber defender seus direitos. Dê sempre mais valor para o suor do seu rosto do que para o dinheiro que vem fácil, mas de forma ilícita. Não queira ganhar vantagens, sendo o esperto da turma. Não tenha a cruel atitude: "eu fiquei no videogame enquanto a trouxa da minha mãe trabalhava para mim e ainda enganei a professora e todo mundo. O Brasil está cheio desses espertos e não precisa de mais um".

Bom amigos... é isso: minha mãe sempre teve orgulho porque ela nunca precisou fazer a lição por mim e pela minha irmã. Hoje somos profissionais bem sucedidas, somos casadas e temos filhos, somos felizes e sabemos lutar pelo que queremos. Enquanto que meus amigos e até familiares que tiveram toda a ajuda do mundo (quando criança, as mães faziam a lição de casa e depois de adultos os pais pagaram carros, faculdades e viagens) não conseguem nem sustentar os gastos mais básicos. Tenho certeza que estou no caminho certo, meus filhos serão vencedores e pelo esforço deles e não pela sacanagem, roubalheira, corrupção ou qualquer outra forma de ganhar sobre os outros.

O GOSTO AMARGO SUMIU E AGORA POSSO DORMIR AO LADO DO MEU FILHO EM PAZ!!! Obrigada minha mãe Angela e obrigada meu pai Laude. Vcs me deram a melhor lição do mundo: valorizar o que eu mesma fiz... Pode não ser o melhor do mundo, mas dei o melhor de mim. Isso é que importa. Amo vcs.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Uma quarta-feira de feriado


Feriado no meio da semana é show de bola, mas oa mesmo tempo é bem estranho. A gente fica com a sensação que deixou um monte de coisa para fazer lá no escritório e que aqui em casa não dá para começar nada, porque amanhã já estaremos trabalhando.

De manhã fomos fazer mais um exame com o Dani. Exame de urina, rotina mensal. Depois passamos no mercado, já almoçamos e agora o Dani tá dormindo com o papai e o Matheus está assistindo DVD. Logo mais vamos tentar ir ao parque. Tá um calor danado e muito seco. Dá vontade de sair para a rua, mas ao mesmo tempo não dá coragem.

No final de semana passado fomos para Aparecida e depois demos um pulo em Campos do Jordão. Foi excelente... Deu para perceber que meu corpo está pedindo um pouco mais de alma. Estou muito imediatista e materialista, vivendo cada minuto e sem pensar em algo maior. Mas não consigo sair desse ciclo vicioso que é trabalho, filhos, casa e marido. Tenho medo de quebrar esse fino cristal que é a felicidade. Me sinto tão feliz que tenho a sensação de que seu eu tentar mudar algo, por menor que seja, a felicidade vai embora. Então vou deixando o tempo passar...