domingo, 28 de outubro de 2018

Eleições Presidenciais

Nasci em 1973! Dizem que foi a década que marcou o fim da Ditadura Militar no Brasil. Eu não lembro muito dessa década. Mas ouço alguns dizendo que brasileiro é tão frouxo que nossa ditadura nem foi assim tão pesada quanto a do Chile ou da Argentina. Muitos conhecidos elogiam aquele passado como sendo a época dos anos dourados do Brasil. Anos em que não havia assaltos nas ruas, em que o salário do proletário pagava suas contas, anos em que a saúde pública era confiável e que a escola pública tinha qualidade. Mas minha memória desmente toda essa exaltação. Sempre tive horror à ditadura e morria de medo quando meus pais me contavam dos desmandos das "autoridades".


Nasci na periferia da Zona Zul de SP, mas meus pais nunca foram ligados a política. Casaram jovens e tentaram estruturar a família com os poucos recursos que recebiam do salário mensal de metalúrgico do meu pai. Por isso, viveram muito mais a Jovem Guarda do que a própria Ditadura do Brasil. No entanto, alguns episódios me marcaram. Por exemplo, quando os policiais dentro de uma viatura "baratinha" queriam levar meu pai para a delegacia porque ele estava ensinando minha mãe a dirigir. E minha mãe não permitiu. Depois eu a ouvi dizendo que se ele fosse para a delegacia nunca mais voltaria vivo. Lembro do medo de algumas pessoas que não podiam sair a noite sem carteira de trabalho assinada, porque um desempregado era considerado vagabundo e poderia não voltar da averiguação. Sinto arrepio das histórias sobre crimes plantados pela ROTA em pessoas honestas e que não se podia reclamar.


Assim esse tema sempre mexeu muito comigo. Talvez tenha sido a semente plantada pela minha professora de Geografia (uma das melhores professoras da escola municipal) que sussurava que não podia dar detalhes daquele capítulo do livro, mas que seria bom pesquisarmos mais sobre a verdade. Talvez tenham sido os livros que fui lendo na adolescência e que me abriram a mente sobre a verdade dos Mitos que se lançaram como salvadores de pátrias em decadência e que na verdade só salvaram a sua própria pele. Só sei que li muito livros, matérias de jornais e assisti muitos filmes sobre ditaduras, de esquerda e de direita. Aos poucos, fui me posicionando contra soluções simples e discursos demagogos. Nunca fui muito politizada, nem fui filiada a partidos. Mas me lembro de uma emoção muito grande quando em 1984 ouvi o hino nacional durante os comícios das Diretas Já. Tinha apenas 11 anos, mas sabia que aquilo era significativo. Também participei das manifestações para o impeachment do Collor, o caçador de marajás que nunca me enganou.


Minha admiração ao PT veio tarde, durante o Colegial (agora ensino médio). O partido do Lula significava a luta contra os "Malufs" da vida. Aqueles políticos tradicionais que estavam do lado do poder, independente se os poderosos eram ditadores ou democratas. Aqueles que roubavam mas faziam, sim... faziam obras faraônicas para justificar milhões de desvios e enriquecimentos (odeio o tampão do rio Tamanduateí e o Elevado, obras de Maluf). O PT da Erundina, da Marta, do Suplicy, do Lula.... se mostrou uma bandeira contra tudo isso. Pois bem... eu mesma coloquei estrela do PT no peito.


Meu pai, peão de fábrica, metalúrgico por toda uma vida, sempre me alertou em relação ao Lula. Dizia que era um demagogo, egocêntrico e que não tinha nada de diferente dos políticos tradicionais. Tivemos muitas brigas por causa das oposições, mas isso me ajudou a pensar melhor e não defender um político só por defender.


Então entrei para a faculdade de jornalista e passei a desconfiar ainda mais do PT e de uma ideologia cega, que se mostrava falida em muitos países. Passei a ter ranço dos esquerdistas xiitas que elogiam Cuba mas que não vivem sem as regalias de um país aberto. Ao mesmo tempo, fui trabalhar no Governo do Estado de SP. Que naquela época era sitiado pelo PMDB. O partido que havia lutado pela Diretas Já. Qual não foi minha decepção ao descobrir o cabide de empregos que era aquilo. Mas fiquei ali, trabalhando como exigia meu contrato de terceirizada (nunca faltei sem justificativa), até que o Mário Covas, do PSDB venceu as eleições. Fiquei entusiasmada com a atitude do novo governo. Limpeza geral dos funcionários fantasmas, inclusive dos terceirizados que trabalhavam como eu. Não fiquei triste em sair, fiquei aliviada na verdade e a partir de então passei a admirar o PSDB.


O tempo passa.... até porque meu objetivo não é contar a história... e o Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, ganha as eleições para presidente com a promessa de uma reforma econômica forte. Na minha opinião, esse foi nosso melhor presidente, conseguindo o melhor governo de todos os tempos. Implanta o Plano Real e com ele o controle da inflação, da dívida pública, permitindo que pela primeira vez o País passasse a ser respeitado pelo mercado externo, preparando o país para qualquer turbulência interna ou externa. Mas como bom democrata, o FHC sabia respeitar a opinião pública e a saiu da presidência ao perder as eleições para o tal Lula.


A vitória do Lula para mim foi um misto de tristeza e de alegria. Não votei no Lula porque já desconfiava do PT depois de vários fracassos na prefeitura. Mas ao mesmo tempo, tinha uma torcida grande para que o eleito do povo fizesse o que tinha que ser feito, com grande foco na população e uma limpeza daquela política suja do toma lá da cá. Para a minha decepção, o Lula se mostrou exatamente tudo aquilo que meu pai o descrevia. Egocêntrico ao extremo, se encantou com o poder e esqueceu da sua missão. Renegou tudo que tinha sido feito pelo seu antecessor, até o projeto do "bolsa família", idealizado pela Dona Ruth Cardoso, uma mulher fantástica. Ele surfou na bolha econômica mundial e na herança "bendita" do FHC apresentando índices fantásticos, o que lhe rendeu reconhecimento internacional. O Lula estava tão focado em manter seu reinado, que colocou sua eleita - uma mulher despreparada e arrogante - para ser sua candidata: o fracasso chamado Dilma. E o pior: num momento de crise mundial, em que seria necessário ter um grande administrador público para segurar as rédeas econômicas até a situação mundial melhorar.


Sinceramente, não acredito que o PT tenha roubado mais do que outros partidos. No entanto, o crime do Lula foi trair a confiança da população ao anunciar que seria diferente. Que não se deixaria levar pela ganância. Enfim... ao estourar os escândalos fui protestar nas ruas contra a Dilma e ela enfim caiu. No seu lugar, ficou o vice-presidente Michel Temer um pemedebista tradicional, igual aqueles que loteavam o governo do estado de SP quando comecei a trabalhar. E é isso que é imperdoável. O PT prometeu ser diferente... fez tudo igual aos outros e ainda devolveu o poder ao PMDB. Mas o engraçado é que mesmo sendo esse monstro, o Michel Temer ainda tentou fazer reformas tão necessárias ao país e - por causa de escândalos ficou enfraquecido - e não conseguiu. No balanço, o Temer será lembrado como um presidente melhor que a Dilma (ironia total).


Hoje estamos na véspera da eleição presidencial. Como candidatos temos o Jair Bolsonaro, um ex-militar com discurso demagogo, que já se declarou a favor da tortura, do porte de arma, contra a união de gays, contra a independência das mulheres, contra os negros e a miscigenação. Do outro lado temos o PT, que insistiu na candidatura do Lula: que está preso por desvio de dinheiro, e que nos últimos minutos acabou indicando o ex-prefeito de SP Fernando Haddad para concorrer a vaga. Durante todo o primeiro turno, o Haddad se manteve ligado ao Lula, visitando o ex-presidente na cadeia por várias vezes. Isso fez com que a rejeição da população em relação ao Haddad fosse a mais alta da história. O PT é lento para conseguir fazer uma auto-crítica. Tanto que só após o resultado do primeiro turno, o Haddad passou a mostrar mais independência.


Sendo assim, o PT - mais uma vez - joga o país nas mãos de políticos sem escrúpulos.


De qualquer forma, a decisão amanhã será bem difícil. A opção 1 é votar no ex-militar medíocre, que tem declarações homofóbicas, contra negros e mulheres de forma explítica. E a 2a. opção é o voto no PT que tanto abusou da confiança da população. Me sinto traída pelo PT. Jurei nunca mais votar 13, que é o número da legenda. No entanto, "prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo", e amanhã vou votar 13. Entre permitir que um autoritário assuma o poder e colocar novamente o PT no governo, fico com a segunda opção. Mas sei que será voto vencido.


Vejo muitas pessoas queridas, amigos, parentes, familiares próximos e colegas de trabalho, assumindo uma posição forte contra o PT. Por isso, acredito que o candidato da Direita sairá vencedor. Ao mesmo tempo que sinto uma tristeza profunda e um medo do que está por vir, também me sinto aliviada. Tenho certeza que muitos que levantam a bandeira verde-amarela agora, irão reprovar esse presidente autoritário no futuro. Mas é preciso aprender. E uma nação muitas vezes precisa aprender na dor. Tenho a sensação que o povo brasileiro ainda está na infância, exigindo aquilo que ainda não merece. Para ter direito a um país justo, seguro, honesto é preciso criar uma nação. E a maioria não tem disposição para isso. Prefere continuar se beneficiando de regalias, subornando, fazendo gato, roubando no troco, mas exigindo que políticos sejam honestos.


Uma coisa é boa nisso tudo. Acordei em relação a evolução da sociedade brasileira. Fui ingênua ao acreditar que todos já tinham superado a idolatria ao poder e que já vivíamos em uma sociedade mais desenvolvida. Balela. A maioria ainda vive com crenças dos séculos passados, acreditando que todos somos iguais desde que sejamos brancos, nascidos no sul ou sudeste do país, heterossexuais, com uma família formada por mamãe, papai e filhinhos. Que o homem deve exigir fidelidade de suas companheiras e que se isso não acontecer, o homem tem o direito em vingar sua honra. Que a justiça deve ser feita pelas próprias mãos. Que a mulher pode trabalhar fora, desde que ganhe menos que os homens e mantenha a casa limpa e em ordem. Bom.... resolvi fazer esse relato para que meus filhos e netos possam ter, no futuro, conhecimento da minha posição. Gostaria muito que eles pudessem viver em uma pátria livre do autoritarismo. Mas isso só o futuro irá revelar.







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