segunda-feira, 27 de junho de 2011

Uma história triste

Quero contar essa história aqui para que ela não se perca. Gostaria que meus netos um dia pudessem ouvi-la para saber que a tataravó deles foi uma lutadora qe ue mesmo vivendo três lutos foi uma pessoa tão boa.

Essa história se passa em Jaú, interior de São Paulo. Tenho poucos detalhes, mas a história como um todo ouvi esse final de semana e espero lembrar de tudo. Meu tio Fernando era o filho caçula da minha avó paterna: eram o Tio Cláudio, a Tia Mirtes, a Tia Mercedes, meu pai Laude e o Fernando. Minha avó Angelina nunca havia comemorado nenhum aniversário dos filhos, mas o meu tio Fernando pediu uma festinha para comemorar seus quatro aninhos de vida. Tanto pediu que minha avó cedeu e fez um bolo para ele cantar o parabéns com seus amigos.
Após o parabéns, o Fernando começou a reclamar de dor de cabeça e foi deitar, depois acordou vomitando e não parou mais de passar mal. A doença foi diagnostivada como leucemia e minha avó precisou interná-lo na Santa Casa de Misericórdia de S. Paulo. Durante aproximadamente 5 meses, ele ficou internado e ela fazia viagens de trem para visitá-lo. Como ela estava grávida, o bebê nasceu em S. Paulo e foi batizado de Eduardo.
Depois de tentarem a recuperação com parcos recursos daquela época, os médicos disseram que realmente não havia cura e que o Fernando poderia voltar para casa. Minha avó foi buscá-lo e trouxe embrulhado num cobertor dentro do trem, tão magrinho que ele estava. Dizem que ele pedia para não morrer, mas ninguém podia fazer nada. Ele veio a falecer em casa mesmo. Só essa parte da história já me deixaria muito triste, porque só quem tem filhos sabe a dor de deixar um caçula no hospital sozinho, visitá-lo e só vê-lo por um vidro e ainda trazê-lo para morrer em casa.
Mas havia o Eduardo, bebezinho que nessa confusão toda, tinha pouca atenção da mãe, mas muito amor e estava sendo criado pelos irmãos como era muito comum naquela época.
Após a morte do Fernando, o Eduardo estava brincando num dia chuvoso dentro de casa. Sem que ninguém percebesse ele saiu e sumiu, desapareceu. Ele tinha uns dois anos. Ninguém sabe se ele caiu no rio que tem lá em Jaú e que fica pertinho da casa deles ou se os "ciganos" o levaram embora. Dizem que havia pegadas de criança na areia do rio, mas o corpo nunca foi achado.
Minha avó dizia que essa perda foi ainda pior, porque o corpo do primeiro ela enterrrou, mas do segundo ela nunca achou e sempre ficou no seu coração o medo de ele estar passando fome e frio. Deus... como essa mãe deve ter sentido culpa, sofrimento, dor e desespero!!! Como esses irmãos devem ter sofrido... Mas ela nunca deixou de acreditar em Deus.
No entanto, ainda havia mais um episódio para acontecer, a morte do meu avô Salvador que era "taxista". Ele morreu de cancer. E a vida que já era dura, eles viviam de vender verdura pelas casas e moravam numa casa de madeira, ficou ainda pior.
Minha avó juntou os filhos (o mais velho com cerca de 20 anos e o mais novo com 9 anos) e veio para S. Paulo. Para o meu pai, essa mudança foi péssima. Menino que vivia na rua brincando, veio morar na casa dos tios e trabalhar no escritório de despachante. Aprender a andar sozinho em S. Paulo enquanto minha avó trabalhava duro para tentar se manter.
Bom... era essa parte que eu queria registrar. Sei que estão faltando várias partes, mas sinto uma força tão grande ao pensar na minha avó, no seu sofrimento, na sua capacidade de superação que minha vida e meus problemas ficam minúsculos. Quando eu a conheci, ela já era uma "avó", gordinha e com cheiro de avó. Sempre com uma palavra sábia.. Claro que tinha seus defeitos, mas as suas qualidades falavam mais alto.
Rio Jaú hoje.
Pena que enquanto ela esteve por perto, não pude dizer tudo isso a ela. Mas sei que espiritualmente ela está recebendo as minhas vibrações de agradecimento por tudo que ela fez por nós. Uma grande mulher que nos ensinou muito: aos filhos, filhas, noras e genros, netas e netos.

Um comentário:

  1. E bisnetos!!! Lindo Kátia.. foi tão sofrido que o meu avô sempre nos conta essa hitória (como um desabafo). Lembro da bia com muito carinho !!! :) Bjos
    Bruna

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